Curitiba foi a primeira cidade do Brasil a transformar uma rua tradicional em um espaço exclusivo para pedestres. Lá em 1972, nasceu o famoso calçadão da Rua XV de Novembro, que hoje é um dos maiores símbolos da cidade — e um verdadeiro convite para caminhar, encontrar pessoas e viver a cidade de um jeito mais leve.

Tudo começou numa sexta-feira à noite, no dia 19 de maio. Enquanto o centro da cidade desacelerava para o fim de semana, operários contratados pela prefeitura ocupavam a Rua XV com ferramentas e caminhões carregados de pedras de petit pavê. A missão? Tirar os carros e criar um espaço só para pedestres. Era o início de uma mudança histórica — e ousada.
O prefeito da época, Jaime Lerner, sabia que a ideia podia enfrentar resistência. Por isso, apostou na estratégia: começou a obra numa sexta-feira às 18h, justamente para evitar que ações judiciais impedissem o projeto. Em cinco dias, o calçadão, que foi planejado pelo arquiteto Abrão Assad, estava pronto: com bancos dispostos como um jogo de sofá, floreiras, mesinhas, quiosques, luminárias redondas e um piso de petit pavê branco com desenhos pretos inspirados no movimento paranista, assinados pelo artista Lange, de Morretes.


Claro que nem todo mundo curtiu de primeira. Comerciantes reclamaram, motoristas ficaram indignados, teve até tentativa de protesto com carros antigos. Mas a prefeitura foi esperta: organizou uma ação com crianças pintando no meio da rua. Quando os carros chegaram, a cena de pequenos artistas tomou conta e o protesto simplesmente parou. E aí tudo começou a mudar.
A primeira etapa da obra foi o trecho entre as Ruas Marechal Floriano e Monsenhor Celso. Nas semanas seguintes, a obra avançou e o calçadão cruzou o eixo que ia da Praça Osório à Praça Santos Andrade. Com o tempo, a clientela dos comércios aumentou, o fluxo de pessoas cresceu e o clima na rua ganhou outro ritmo. O trecho da Avenida Luís Xavier foi integrado ao calçadão e a famosa Boca Maldita virou ponto ainda mais movimentado de debates, encontros e muita história.
Bondinho da Leitura: um clássico curitibano
Bem na esquina com a Rua Ébano Pereira, está um dos símbolos mais fofos da Rua XV: o antigo bondinho elétrico que virou biblioteca infantil. São mais de 2.800 livros disponíveis para leitura no local ou empréstimo. Funciona de segunda a sábado e segue encantando gerações de curitibanos.

Urbanismo com foco no pedestre
O calçadão da Rua XV não é só bonito, ele é pensado para facilitar o ir e vir de quem caminha por ali. O projeto criou faixas amplas para circulação, áreas de descanso, vitrines acessíveis e mobiliário urbano que convida à permanência. É um exemplo de como uma cidade pode ser feita para as pessoas — e não só para os carros.

Histórias que fazem parte da cidade
O calçadão foi palco de grandes momentos da cidade: das Diretas Já em 1984 às apresentações de rua, dos jogos da seleção nas Copas do Mundo aos eventos natalinos, e também lugar de protestos e muita cultura popular. É onde Curitiba respira.

Os curitibanos de verdade e os apaixonados pela cidade sabem: a Rua XV não é só uma rua. É um pedacinho da nossa identidade.













